Estamos de volta ao Brasil, desde o último dia 14 de setembro. Após 40 dias em solo boliviano - período em que nos ocupamos de recolher imagens, em vídeo e foto, obter noticiários de TV e periódicos locais e contactar fontes diretamente envolvidas com o processo político (de ambos os lados e de diversas tendências) - o trabalho entra agora em uma nova fase, de decupagem e triagem desse material. Em paralelo, a equipe se empenha em dar um contorno final ao roteiro e buscar novos parceiros, para continuar viabilizando uma realização de alto nível.
A Bolívia, muito além da figura do presidente Evo Morales, passa por um processo de retomada de sua soberania, em que seu povo - historicamente explorado e cuja maioria ainda vive em condições precárias - se auto-reconhece e reafirma valores e cultura, e se organiza politicamente para tomar, dialogar, manter e cobrar do poder.
As medidas de nacionalização dos recursos naturais, regulamentação e organização da produção da folha de coca e implementação de uma assembléia constituinte, muito longe de arroubos de autoritarismo, foram nada menos que o cumprimento da agenda social que elegeu o presidente e que justifica sua estada no Palácio Quemado.
É impressionante o grau de informação e interesse por política da população boliviana hoje, sobretudo por parte das pessoas mais humildes - motoristas de taxi, cocaleros, pequenos comerciantes. Não são estúpidos ou ingênuos. Se engana é quem pensa que é só gente ignorante sendo enganada. É bom lembrar que, antes de Morales, a Bolívia depôs, nas ruas, dois presidentes, por não cumprirem tal agenda. Um deles desde 2003 vive em Miami e tem status de persona non grata em seu próprio país. Quem manda?
Da estada na Bolívia, já sentimos uma grande saudade. Do espanhol com acento boliviano, que já nos soava tão familiar; do convívio com o povo, quase sempre disposto a uma conversa à moda latina, tão consciente de tantos problemas, ao passo que tão cheio de camaradagem e bom-humor; de tantas experiências novas - dos contrastes urbanos entre o centro e a periferia, da amazônia e do altiplano exuberantes. E saudade sobretudo do convívio e da solidariedade entre os membros do nosso time, que sobreviveu ao desafio mais complicado que é conviver em grupo. Tanto melhor é quando grandes trabalhos produzem e fortalecem tão boas amizades.
Agradecemos aos nossos apoiadores - UFBA, IRDEB e Red Unitas - e a vocês, leitores do blog, cujo apoio foi o ânimo que fez a primeira fase do trabalho sair melhor que a encomenda. O blog dá uma parada, mas o trabalho continua.
Um filme bonito vem por aí.
Lucas, Ricardo, Mateus, Vítor e Tássia [exatamente na ordem da foto].
*corrigido às 14h53 do dia 25/9