Uma base de ferro puxada por um cabo de aço nos conduziu em um plano inclinado até o boca mina, local onde os trabalhadores ingressam no morro para procurar minério. Sob nossos pés, a segunda maior extração de estanho do mundo. Um panorama industrial e uma multidão de trabalhadores contrastam com a alta dose de precariedade no local. Chegamos para conhecer um dia de trabalho dos mineiros de Huanuni, primeira mina a ser nacionalizada pelo governo de Evo Morales.
Capacete marrom, macacão azul, luz na testa, cinturão e bota compunham nosso vestuário de segurança para uma jornada de 7 horas dentro do mundo da mineração. Uma das entradas é por um corredor onde carris guiam o caminho de mini vagões transportadores de carga. A cada passagem da locomotiva, somos obrigados a encostar na parede de rocha irregular.
Antes de qualquer atividade subterrânea, os mineiros fazem uma espécie de devoção ao Tío, o santo protetor do interior mina. A figura é exótica, com cara de capeta, pele vermelha e um par de chifres. Reza a lenda que foi um dos melhores extratores de mineral da história e por isso virou santidade. Para ele não faltam oferendas, como fetos de lhama, cigarros acessos e folhas de coca, mascadas ou em formato natural. Se um mineiro necessita de um fumo, pode até pegar unzinho emprestado do Tío, mas ai dele não devolver no outro dia.
Depois de resguardado pelo "diabo divino", o trabalhador segue para seu posto de trabalho. A escuridão dos corredores só é quebrada pelo foco de luz da pequena lâmpada presa ao capacete.
Nos corredores em exploração, quartinhos abrigam o picheo (lê-se pitcheo) dos mineiros. "Impossível trabalhar sem mascar a folha de coca”, justifica um trabalhador sentado em uma tábua em meio ao ar rarefeito e a uma umidade sufocante. Ali portam uma sacola verde cheia da hoja. Uma por uma, cada folha é levada à boca depois de ter seu talo tirado com habilidade. O ritual se completa com a mastigação e o armazenamento da massa salivada numa das bochechas.
A folha de coca é sagrada para os mineiros. Dizem que ela serve de filtro e protege os pulmões da poeira produzida pela mina. Além disso, é estimulante mais forte que o café e garante até 8 horas de trabalho sem ingestão de alimentos.
Com a boca cheia eles partem para sua atividade diária. O trabalhador mais importante da mina é o perfurista. Conhecemos um desses. O sujeito porta uma espécie de britadeira com braço hidráulico e utiliza sua força para fazer pressão ante a parede de pedra. Fica por três horas seguidas suportando o trepidar e o ruído insuportável do maquinário. Depois paga o esforço com problemas renais e ortopédicos. Experimentei por alguns minutos o ofício e percebi a dureza do cara que faz a mina andar pra frente. Sem ele, nem um grama de estanho sai das paredes dos corredores de pedra.
Ainda existe o trabalho manual com martelo e cravo, mais especializado, no entanto igualmente sufocante. Todos sacam mineral para os transportistas levarem para o engenho, onde é separado da rocha.
Da severidade da vida na mina, esses trabalhadores desenvolveram uma filosofia sindical sólida e capaz de realizar a Revolução de 1952 na Bolívia. Mas, em 1985, a demissão de mais de 20 mil mineiros da Comibol (empresa estatal exploradora do solo) e o processo de privatização das jazidas levou os trabalhadores à desmobilização. Mas hoje tentam conquistar espaço político novamente e chegar até a luz indicadora do final da mina para sentir os raios da liberdade.
Capacete marrom, macacão azul, luz na testa, cinturão e bota compunham nosso vestuário de segurança para uma jornada de 7 horas dentro do mundo da mineração. Uma das entradas é por um corredor onde carris guiam o caminho de mini vagões transportadores de carga. A cada passagem da locomotiva, somos obrigados a encostar na parede de rocha irregular.
Antes de qualquer atividade subterrânea, os mineiros fazem uma espécie de devoção ao Tío, o santo protetor do interior mina. A figura é exótica, com cara de capeta, pele vermelha e um par de chifres. Reza a lenda que foi um dos melhores extratores de mineral da história e por isso virou santidade. Para ele não faltam oferendas, como fetos de lhama, cigarros acessos e folhas de coca, mascadas ou em formato natural. Se um mineiro necessita de um fumo, pode até pegar unzinho emprestado do Tío, mas ai dele não devolver no outro dia.
Depois de resguardado pelo "diabo divino", o trabalhador segue para seu posto de trabalho. A escuridão dos corredores só é quebrada pelo foco de luz da pequena lâmpada presa ao capacete.
Nos corredores em exploração, quartinhos abrigam o picheo (lê-se pitcheo) dos mineiros. "Impossível trabalhar sem mascar a folha de coca”, justifica um trabalhador sentado em uma tábua em meio ao ar rarefeito e a uma umidade sufocante. Ali portam uma sacola verde cheia da hoja. Uma por uma, cada folha é levada à boca depois de ter seu talo tirado com habilidade. O ritual se completa com a mastigação e o armazenamento da massa salivada numa das bochechas.
A folha de coca é sagrada para os mineiros. Dizem que ela serve de filtro e protege os pulmões da poeira produzida pela mina. Além disso, é estimulante mais forte que o café e garante até 8 horas de trabalho sem ingestão de alimentos.
Com a boca cheia eles partem para sua atividade diária. O trabalhador mais importante da mina é o perfurista. Conhecemos um desses. O sujeito porta uma espécie de britadeira com braço hidráulico e utiliza sua força para fazer pressão ante a parede de pedra. Fica por três horas seguidas suportando o trepidar e o ruído insuportável do maquinário. Depois paga o esforço com problemas renais e ortopédicos. Experimentei por alguns minutos o ofício e percebi a dureza do cara que faz a mina andar pra frente. Sem ele, nem um grama de estanho sai das paredes dos corredores de pedra.
Ainda existe o trabalho manual com martelo e cravo, mais especializado, no entanto igualmente sufocante. Todos sacam mineral para os transportistas levarem para o engenho, onde é separado da rocha.
Da severidade da vida na mina, esses trabalhadores desenvolveram uma filosofia sindical sólida e capaz de realizar a Revolução de 1952 na Bolívia. Mas, em 1985, a demissão de mais de 20 mil mineiros da Comibol (empresa estatal exploradora do solo) e o processo de privatização das jazidas levou os trabalhadores à desmobilização. Mas hoje tentam conquistar espaço político novamente e chegar até a luz indicadora do final da mina para sentir os raios da liberdade.
7 comentários:
Meninos!Parabens!Vcs vão longe.Já viram a matéria em Luiz Carlos Azenha?É isso, coragem!coragem se o que vc quer é aquilo que pensa e faz, coragem!coragem!eu sei que vcs podem mais.Adoro esta musica de Raul Seixas(trecho).Bjs e Sucesso a todos.Tia Bete
Oi Pessoal,
Muito bom acompanhar daqui o trabalho excelente que vocês estão desenvolvendo!
Parabéns à toda equipe! Os textos e as fotos estão ótimas!
Oi T����!
Adorei as novidades no blog! Parab�ns pelo trabalho!!!
Muito bom acompanhar daqui tudinho e conhecer mais ainda a hist�ria da Bol�via!
Beij�o e sucesso, sempre!!!!!
Passaram os 3 mil... tão que tão!
Meus caros, parabéns!
Não sei se vocês são da UFF, mas vi o anúncio do trabalho de vocês na lista do GEALC - Grupo de Estudos de América Latina e Caribe. Eu e uns amigos realizamos tambem um curta na Bolivia em 2004, sobre a Guerra do Gás, e tambem passei o mes de agosto ultimo por aí. Muito bom chegar aqui e encontrar um meio de continuar me informando sobre essa querida e combativa terra - quase me sinto novamente viajando com os relatos.
Mais uma vez, parabéns, força e boa sorte!
abraços!
Caro Cadu Marconi,
Lucas, Mateus, Vítor e Ricardo são da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Eu estudei numa faculdade particular em Salvador também. Fiquei na vontade de ver seu curta. Deixo aqui meu email pra vê se combinamos o envio de uma cópia (tassian@gmail.com). Bom saber que gostou do nosso trabalho :)
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