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Uma boa oportunidade para conferir Bolívia para além de Evo Morales no telão do cinema. O documentário será exibido nesta quarta-feira (21), às 20h, na Sala Walter da Silveira, em Salvador, na programação da "Quartas Baianas". A entrada é gratuita.
Lucas, Ricardo, Mateus, Vítor e Tássia [exatamente na ordem da foto].
*corrigido às 14h53 do dia 25/9
Na parte sul da Bolívia está Sucre, sede da Suprema Corte de Justiça, uma cidade relativamente pequena com pouco mais de 230 mil habitantes. Considerada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Sucre também é conhecida como Cidade Branca devido aos diversos casarões coloniais de faixada clara.
As duas cidades encabeçam na Constituinte proposta de capitalidade plena, termo que significa reconhecer apenas uma das cidades como capital e sede dos três poderes. A questão é que nenhuma das duas quer sair de mãos vazias. O tema motiviou divisão entre os constituintes de La Paz e Chuquisaca, departamento qual Sucre é capital, até que no último dia 15 de agosto a direção da Constituinte, a pedido de representantes do MAS, aprovou a eliminação do debate sobre a capital. A medida teve o apoio de 134 dos 211 constituintes presentes no plenário.
Desde então todas as atividades da Comissão da Constituinte estão paralisadas. A situação voltaria ao normal hoje, mas as sessões voltaram a ser suspendidas devido a um confronto entre policiais e manifestantes.
Em meio as pressões políticas, o governador do departamento de Chuquicasa, David Sánchez (MAS)renunciou o cargo com o argumento que não gostaria de ser responsável pelo enfrentamento de manifestantes e a polícia especialmente no próximo dia 10 de setembro, dia em que está programado uma marcha campesina com mais de 100 mil pessoas.
Em nossa passagem por Sucre [22 a 26 de agosto], encontramos mais de 600 pessoas em greve de fome, uma espécie de ação refratária à hipótese de perder a capitalidade. A foto ao lado foi tirada no Salão Vermelho de Honras da Prefeitura. No cartaz, "Sucre de pé, nunca de joelhos".
Evo falou ainda da luta cocalera e de como os movimentos organizados se fortaleceram num processo de reação às políticas de neoliberiais dos governos anteriores. Falava do mal papel norte-americano enquanto relaxava os ombros e deixava os braços cairem no contorno lateral da cadeira. Reclamava do protocolo e da segurança que tinha que se submeter enquanto enfregava uma mão na outra e as guardava entre as pernas.
Apesar do cansaço aparente (enfrentou o maior Paro Cívico do país no dia anterior), em poucas ocasioes desviou os olhos dos meus. Visão firme, falava sem capas e sem esconderijo. Uma entrevista franca, mas sem palavras excessivas, cuidado natural de um chefe de estado acostumado a ser qualificado de "índio incompetente".
O tom intimista foi uma constante e a impressão mais forte é de que estávamos diante de um homem simples, real representante das classes populares: um homem do povo. Ele despreza as técnicas comunicativas utilizadas pela maioria dos habitantes do campo político e fala com naturalidade.
As suas origens de pastor de lhamas, quando criança, e de campesino cocalero, já adulto, não ficaram, ao menos aparentemente, do lado de fora do palácio presidencial. Numa tentativa definir sua própria representação nacional, ele emendou. “Os movimentos sociais são muito mais importantes que Evo Morales”.
Mas nosso salvador parecia nervoso, dizendo-se com medo de ser pinchado pelo caminho. Levou 5 minutos até entendermos que seu receio nao era de ter um pneu furado na calada da noite, mas ali mesmo, ao vivo, no meio da estrada. Taxistas revoltados com a quebra de decoro estenderam uma plancha enorme e cheia de pregos no meio da rodovia, obrigando-nos a encostar. O motorista desceu desenxabido para o tribunal.
Falou sobre um acordo de cooperaçao com o Brasil para funcionamento de uma fábrica de papel e um outro acordo com médicos cubanos para implantaçao de um centro oftalmológico para os habitantes da regiao.
Não se estendeu com assuntos políticos e fez questão de cumprimentar todos que vieram ao seu encontro. As mulheres que trabalham no mercado de Villa Tunari ofertaram como saudação de boas-vindas um enfeite feito com verduras, hortaliças e frutas.
"As três cores da bandeira boliviana representam a unificação dos povos que vivem nesse país. A presença das Forças Armadas e dos povos indigenas não é uma provocação a ninguém. É apenas para que todos sejam reconhecidos", garantiu Morales.